
Com a crescente implantação das Práticas Integrativas e Complementares em Saúde no Brasil, nosso olhar também vai para a medicina indígena, um acervo eterno de ensinamentos e saberes ancestrais passados de geração em geração, um rico conhecimento ainda a ser catalogado e, por muitos, desconhecido.
O projeto Jardins da História tem como objetivo divulgar o conhecimento em plantas medicinais de acordo com diferentes concepções de saúde e doença, construídas em diversos contextos históricos e étnicos. Esta edição do projeto propõe a visita ao Horto Didático de Plantas Medicinais, da Universidade Federal de Santa Catarina, tendo como olhar as plantas utilizadas pelas lógicas médicas indígenas brasileiras.
No livro Jardins da História: Medicinas Indígenas, estão descritas a relação de sete etnias indígenas de diferentes regiões do Brasil com as plantas medicinais, incluindo como fazem uso delas para promover saúde e tratar doenças. A obra, escrita em português e francês no formato de contação de história, foi lançada por uma parceria com o Observatório Nacional de Saberes e Práticas Tradicionais, Integrativas e Complementares (ObservaPICS).
Participaram do lançamento as autoras Adriana Strappazzon – antropóloga e médica, e Renata Palandri Sigolo – historiadora e professora da Universidade de Santa Catarina (UFSC), e os convidados: o professor da UFSC Sandor Bringmann e a indígena Kellen Guarani Kaiowá – doutoranda em clínica médica pela Universidade Estadual de Campinas.
Jardins da História: Medicinas Indígenas é fruto de um projeto de extensão do mesmo nome, conduzido pelas autoras entre 2017 e 2019. Em oficinas realizadas no Horto Didático de Plantas Medicinais do Hospital Universitário da Federal de Santa Catarina e no Jardim Botânico de Florianópolis, com grupos formados por estudantes da universidade e pessoas externas à instituição, elas conduziam uma busca às plantas medicinais.
Após os participantes divididos em subgrupo localizarem as plantas, munidos de cartões com seus desenhos, informações de uso segundo a etnia e dos nomes científico e indígenas (nos casos em que foram identificados), Adriana e Renata partilhavam conhecimentos sobre a relação da planta com os saberes da etnia a ela relacionada, debatendo aspectos indígenas e não indígenas com o grupo.
“O momento em que nos encontrávamos à volta de uma planta medicinal também era a ocasião para a troca de saberes. Convidávamos a todos para avaliar a experiência por escrito e pelos testemunhos orais. Percebíamos que a imagem do “índio genérico”, aprendida na escola e por meio da mídia, se desvanecia para dar lugar ao encantamento em descobrir que há centenas de etnias indígenas no Brasil e que nosso encontro só convidava a descobrir um pouquinho de sete delas (Ka’apor, Huni kuin, Wajãpi, Yanomami, Baniwa, Guarani e Kaingang)”, citam as autoras num dos trechos do livro.
Outras Relíquias

Além da obra mencionada, que relaciona as plantas medicinais conhecidas por pesquisa bibliográfica, sabemos de outras de grande valor sobre a medicina indígena, uma delas vem da tribo dos Yanomami, na Amazônia. É o caso do projeto Manual dos remédios tradicionais Yanomami, uma pesquisa intercultural empreendida pela Hutukara Associação Yanomami em parceria com o Instituto Socioambiental (ISA), lançada em 2015.
O trabalho foi transformado em uma exposição interativa, disponível na plataforma do Google Arts and Culture, onde o visitante pode conhecer, através de fotos, vídeos, desenhos, depoimentos em áudio e textos, como o conhecimento tradicional sobre a medicina da floresta, patrimônio milenar do povo Yanomami, sobreviveu à morte de muitos dos seus membros, e como ainda é tão salutar para evitar crises ambientais e curar doenças. É possível também conhecer algumas das plantas utilizadas pelos Yanomami e ouvir sua pronúncia.
Para baixar o PDF da obra Jardins da História – Medicinas Indígenas, acesse:

Fonte complementar: ObservaPICS – FioCruz Brasil | Greenpeace
Por Luciane Strähuber – Educadora, Consultora e Terapeuta Integrativa