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A Realidade nos Cura: A Ilusão nos Adoece

Nos processos terapêuticos que realizo, o foco sempre é o aqui e o agora, o que a pessoa precisa no momento presente para mantê-la enraizada e equilibrada com a sua realidade, considerando todo o seu cenário interno e externo. Compreender, organizar, ressignificar e harmonizar o momento presente para, somente depois, à cada passo, ir aprofundando o processo conforme as necessidades e os limites de cada um.

Uma das etapas desse processo envolve o resgate e o olhar para a criança interior. Esse resgate possui degraus que precisam ser galgados um a um, passo por passo, com firmeza, clareza, sensibilidade, respeito e consciência de ambas as partes, sempre levando em consideração a realidade única de cada pessoa. Este trabalho é tão profundo que não temos como colocar uma data na agenda, mas envolve a raiz de muitas doenças e desequilíbrios emocionais.

Quando falamos do resgate da nossa criança interior, esse cenário também traz o resgate e a cura dos vínculos com nosso pai e nossa mãe, e com eles o reequilíbrio dos fluxos de amor entre a nossa criança e os nossos pais. Às vezes, precisamos ir além e abrir as comportas das “barragens emocionais” criadas por aqueles antes de nós, e permitir a fluidez dessas águas emocionais de dentro para fora: aquelas que também permearam os vínculos de amor dos nossos pais com os seus próprios pais – nosso avós.

Isso não significa que tenhamos que ir muito longe no passado para abrir todas as comportas ou ter a chave para todas as fechaduras. Significa sermos capazes de harmonizar esses fluxos de amor dentro de nós através da ressignificação de imagens internas que criamos ou recebemos desde a nossa infância passivamente, de experiências que foram traumáticas ou bloqueadoras ou mesmo de crenças “petrificadas” internamente, para liberarmos o que não serve mais e sermos capazes de criar algo novo.

Se possível, vamos precisar ressignificar a forma como nos relacionamos com nossos pais, nossos filhos (para os que tem ou planejam ter filhos), nossos relacionamentos afetivos e com as pessoas envolvidas em nosso campo criacional de vida, deixando nossa experiência e nossos ensinamentos para as gerações futuras. Mesmo aqueles que não possuem ou não podem ter filhos, são capazes de ressignificar isso, colocando e direcionando essa energia de criação em um projeto pessoal ou num objetivo maior em benefício de outros. Vamos observar, através das transformações internas, que o modelo que tínhamos criado muitas vezes não servirá mais para o agora. Isso porque quando superamos um trauma ou liberamos algo que estava bloqueado, o pensar, o sentir e o agir se tornam diferentes.

Toda essa reflexão vem ao encontro do princípio de que a maioria das doenças pode ser curada quando o doente se cura internamente, e se não curada pelo menos aliviada e estabilizada – muitos aprendem a conviver com a ela quando não há cura no físico – iniciando pelo resgate da nossa criança interior. Nosso corpo, muito mais do que nossa mente – que muitas vezes bloqueia situações traumáticas para nos proteger – guarda memórias da nossa infância. E é através do olhar para essa raiz da criança que começamos a nossa jornada pelo que chamo de “espirais do silêncio”. Essas espirais habitam dentro de nós como portas a serem abertas, nos mostrando o que precisamos resgatar e evoluir para externar todo o potencial criativo da nossa alma e do nosso propósito.

A doença, portanto, é apenas um termômetro para nos dizer que algo não está bem, que ainda existe alguma coisa ou uma parte de nós que estamos negando, bloqueando, “empurrando com a barriga”, mas que precisamos olhar. A doença é como o vizinho que vem nos cobrar sobre um vazamento. Enquanto não olharmos, enquanto refutarmos a sua existência, ela permanecerá lá e causará muitos danos. Mesmo que crises se manifestem de tempos em tempos, é possível observar os ciclos que se repetem e ir modificando-os.

Assim, esse olhar curativo vai para o ser humano em primeiro lugar – ao invés de apenas para a doença e seus sintomas. Nos exigirá coragem, determinação, paciência e saber lidar com tentativas de acerto e erro, porque vamos errar várias vezes, ter recaídas, até acertar e começar a fazer diferente. Junto disso, nos exigirá também movimentos para a ação, para modificar e transformar padrões de comportamento, crenças que nos limitam e formas antigas de pensar, sentir e agir que nos travam. É uma longa jornada, mas além de valer à pena, o momento é propício e as oportunidades estão aí para todos agora, num cenário que nos obrigou a parar e olhar para tudo o que não tínhamos tempo ou não dávamos a verdadeira atenção.

E para reforçar a profundidade desse processo, do quanto precisamos exercitar a presença, a consciência, o “pé no chão” para evitar grandes expectativas, frustrações e ilusões, transcrevo o artigo de um médico, psicoterapeuta corporal e constelador sistêmico sobre o tema. Do meu ponto de vista, nada melhor que um médico com uma visão global para falar sobre esse assunto.

Desejo que você aproveite essas palavras para encontrar as portas que precisa abrir, mesmo que o girar da chave não seja agora. Se você está vivendo um dilema, tenha em mente: dilemas não levam a lugar algum, portanto saia deles. O seu caminho é único e muitas vezes você vai precisar construi-lo a partir da desconstrução de uma trajetória antiga. E se precisar de ajuda, ouse pedir apoio a pessoas que você confia e que podem auxiliar você. Esse é um momento de união de forças! Namaste! ❤

O Enigma da Doença e da Cura – Dr. Fernando Freitas

Os doentes têm uma relação especial com suas doenças. A mente diz que quer se curar, mas na realidade continuam apegados a elas. A mente e o corpo falam linguagens diferentes e é preciso compreender e solucionar esse enigma. A mente constrói e vive no mundo da ilusão. Cheio de explicações e justificativas, mantém o processo doentio. O corpo está ligado à realidade e traduz a fala da criança interna. Essa criança fala o tempo todo à mente, mas ela não ouve e deturpa suas mensagens. Só quando tivermos a coragem de ver a realidade é que poderemos retirar a criança do trauma e curarmos nossas doenças. 

Todos os doentes carregam em sua mente uma característica comum: a ilusão sobre a Vida. A forma como lidam o mundo tem nuances infantis. Há sempre uma relação inadequada com o mundo  externo e interno,  que não conseguem se harmonizar. A causa e a solução da doença são colocadas em bases irreais e que impedem qualquer alternativa viável para o reencontro do caminho saudável. Compreender a forma de pensar, sentir e agir é o primeiro passo para o trabalho com os indivíduos doentes. Encontrar o doente dentro de nós mesmos é o segundo passo. Aprender a ver a realidade e se amar é o terceiro. Ter a coragem de seguir para a vida e deixar as ilusões é o último passo.

Em geral, os doentes estão extremamente apegados às suas doenças. Há uma ilusão dos familiares e até dos profissionais que eles querem se curar, mas, se observarmos bem e sem qualquer julgamento, veremos a realidade. Se  tentarmos  retirar  a  doença,  o  cliente  resistirá de todas  as  formas.  Se conseguirmos, por  algum  milagre  curar  sua  enfermidade,  ele  desenvolverá outra.  Hipócrates,  o  pai  da  medicina,  há mais  de  2000  anos,  já  havia observado  esse  fenômeno.  Ele  o  descreveu  e  o  denominou:  Princípio  da Alternância Somática. Apesar de ser conhecido desde a antiga Grécia, ainda ficamos cegos diante desse processo.

Quem ficar numa sala de espera cheia de doentes verá o prazer com que cada um carrega suas chagas, seus  sofrimentos e seus  insucessos no tratamento.  Há um sentimento  de  superioridade e de poder que freqüentemente se manifestam por sorrisos disfarçados e até explícitos quando relatam seus problemas.  Alguns  carregam  com  orgulho  uma  quantidade enorme de exames de laboratório, radiografias e receitas de vários médicos que não conseguiram resolver suas enfermidades.  Pergunte a qualquer médico que conheça sobre a dificuldade de curar um paciente.

Se ele for um recém-formado, ainda terá a ilusão do seu papel divino e do poder que imagina ter em vencer o inimigo da saúde. A fantasia infantil de super-herói está por baixo das suas roupas brancas. Se ele for mais experiente e, conseqüentemente, sem a onipotência peculiar do início da carreira, poderá te dizer que não é capaz de curar ninguém. Ele tem a consciência que há um grande teatro e um mundo à parte da realidade. Ele sabe que o universo do cliente é uma bolha quase inacessível. O cliente só sai de lá quando a sua alma acorda, estoura essa bolha de ilusão e enfrenta a realidade que o cerca.

A doença é um mecanismo de proteção que impede a visão dos traumas emocionais infantis. Por trás de cada somatização há uma história emocional dolorida que a criança não teve capacidade de resolver sozinha e nem com a ajuda dos seus pais. Isso ocorre porque os pais também não conseguiram identificar o problema. Eles  não  puderam ver neles mesmos, portanto, não sabem o que é, nem o que fazer. Aqui se observa uma característica importante das doenças na família: a tendência à repetição nas próximas gerações. Muitas são atribuídas à genética, mas, a maioria delas não é. Por exemplo, numa família de obesos o cachorro também é obeso. Será que ele tem a mesma genética de seus donos? Outro exemplo é a filha de um alcoólatra que tende a casar  com outro  homem dependente de  álcool e que, com freqüência, tem filhos dependentes de álcool, droga ou afins. 

Quem trabalha com paciente doente conhece bem a dinâmica de esperar que outra pessoa o tire de sua dor. Empurram a responsabilidade de melhora ao profissional que está à sua frente. Quando a cura não aparece, sabem a quem atribuir a culpa. Caminham por vários consultórios e se submetem a mais exames, tratamentos medicamentosos e cirurgias. A tendência é que a doença continue piorando. Hipócrates ensinou que não se trata doença, devemos tratar os doentes. Ele também descreveu qual deveria ser a função do médico: Ajudar o doente a se curar. Ele sabia que o segredo da cura está dentro do indivíduo. Pena que esse ensinamento ficou  esquecido. 

Hoje, vemos que a própria medicina adoeceu. Tivemos muitas melhorias  técnicas e avançamos no  conhecimento médico.  Com isso, ajudamos as pessoas a suportarem cada vez mais os seus problemas. Não morremos tão fácil e não sofremos tanto, mas não conseguimos acabar com a doença. Aliás, acumulamos várias e até inventamos outras doenças que antes nem existiam. Georg Groddeck, o Pai da Psicossomática Moderna mostrou que todo doente traz a sua criança à tona e que precisa de um adulto para tirá-lo de seu conflito. A questão é que se os seus pais não o fizeram, apenas o seu próprio adulto o fará.

Isso é compatível com o que Hipócrates disse sobre a função do médico em ajudar o cliente a se curar.  Isso  significa que o cliente precisa desenvolver seu próprio adulto para dar à sua criança o que ela deveria ter recebido, mas, infelizmente não o teve. Groddeck deu uma extrema importância ao mundo do adulto e ao mundo da criança. Ele conhecia o enigma da doença e o decifrou brilhantemente. A criança fala através do corpo e da doença, linguagem utilizada para mostrar ao adulto as suas necessidades básicas e essenciais que  foram menosprezadas pelos seus pais. A criança se protege da dor emocional através da dor física. Portanto, se tirarmos a doença, a criança entra em contato com a dor emocional subjacente. A somatização é a proteção da dor da alma. É um mal menor para evitar um mal maior. Além disso, através dos seus sintomas, o lado criança do doente tem alguém que cuide dele. 

Aquilo que os pais não fizeram é feito por outros adultos. Nunca irá resolver, mas é melhor que ficar sem ser cuidado. É por isso que as pessoas doentes mantém sua doença. Curar qualquer doença tem um estágio essencial: tornar-se  adulto. Quando o adulto pode cuidar das necessidades da criança interna, ela sairá do trauma infantil e não precisará dos substitutos dos seus pais.  Para  chegar nesse ponto é preciso que essa pessoa desenvolva as características adultas. Se não houver um modelo adequado, isso não ocorrerá. Se o profissional que for ajudar não tiver um adulto saudável para sua  própria criança, será impossível mostrar o caminho para o doente.

Por isso que Groddeck dizia que o primeiro doente que o médico deve tratar é o próprio médico. O adulto está conectado com a realidade da vida e precisa abrir mão das ilusões que sua criança acreditava. O tempo  para fantasiar e acreditar na fantasia terminou. Brincar é um período primordial para a saúde, mas tem o seu tempo. Assim como usar fralda foi necessário quando éramos bebes, não é apropriado usá-las ao crescermos.

Ser criança é o caminho para ser adulto. Se a infância ocorreu com a proteção e o amor adequado dos pais, a evolução para o plano  adulto é simples e fácil,  pois teve o modelo daqueles que o geraram. Eles mostram o caminho para o filho através de seus pensamentos, sentimentos e atitudes saudáveis. A criança não é exposta diretamente à Vida. Não somos como as tartaruguinhas que enfrentam  muitos desafios ao saírem de seus ovos. A maioria delas morre antes de chegar à água.

A evolução das espécies trouxe inicialmente a função materna e, posteriormente, a função paterna para que a vida fosse preservada de forma mais eficiente. Entre a criança e a Vida há a mãe e o pai para que ela cresça em segurança e aprenda a seguir para o seu destino. Ao crescer, saberá como deixar seu local seguro e ter o direito de viver sua própria vida. A criança olha para os pais para ver como eles olham para a realidade da  Vida. Aos poucos, ela vai aprendendo e se tornando cada vez mais independente de seu útero familiar.

Ao olhar para seus genitores, ela adquire conhecimento sobre o que é ser adulto, o que é ser um homem e uma mulher, como é o relacionamento entre dois seres tão diferentes, como lidar com conflitos, como ter objetivos para a Vida. Como deve abrir mão do ótimo para um indivíduo ter o bom numa relação, como ser um casal e ser pais ao mesmo tempo, como dividir espaço, como viver em ordem e hierarquia, como respeitar os outros, como é melhor e mais saudável viver nos relacionamentos. Como respeitar as necessidades individuais próprias e dos outros, como receber e impor limites, como ver o outro, como ajudar, como amar. A vida em grupo também é fruto da evolução e, para isso, é necessário saber como se relacionar de forma saudável. 

Dessa forma, precisamos aprender a esperar o momento adequado e como interagir com o mundo externo.  Essa sabedoria é que fez com que o ser humano  se  tornasse a espécie  dominante. Essa inteligência se desenvolveu  baseada  em  todas  as experiências que a Natureza criou. Somos seres naturais e devemos estar em harmonia com o mundo que temos. Essa é a Realidade que nos torna saudáveis. Se alguém sair desse caminho, fatalmente terá a doença como aviso de seu desvio.

Quanto mais longe da Natureza e da Realidade, maior será a intensidade da sua enfermidade.  A Realidade é um plano acessível apenas aos adultos de alma, não de idade. A alma adulta está em ressonância com a Vida. Amar é liberdade. A dependência das crianças é apenas uma etapa a ser vencida. Cada criança deve ser vista como uma semente que precisa ser cuidada da melhor forma possível, para que possa materializar todo seu potencial. Cada uma é diferente de outra. 

A função mãe e pai são apenas tarefas temporárias que precisam ter um começo e um  fim. Qualquer  pessoa  que  tiver  como  objetivo  apenas  essa função, determina a morte do seu adulto e do adulto de seus filhos. A mãe eterna mata a mulher. Ela perde a sexualidade, a relação com o marido e os objetivos de vida que deveria ter. O filho é o único objetivo e, para isso, nunca poderá se tornar um adulto livre, pois deverá sempre manter essa função de dependência que também é temporária.

Nenhum adulto saudável é dependente de outra pessoa. Pode existir uma interdependência, mas, cada um caminha com seus pés. Nenhuma relação adulta tem a conotação de responsabilidade sobre as necessidades básicas do outro. Cada um é responsável pela sua vida e pela sua felicidade. A  Realidade  exige  que  cada  ser  tenha  em  sua  essência  a  liberdade. Assim, pode ajudar o outro a se libertar de qualquer prisão emocional advinda de emaranhamentos familiares e de neuroses de seus pais ou da família. Todo profissional que tem como missão ajudar o doente a se curar deve ter em sua alma esses conceitos básicos: Realidade, Amor e Liberdade.

Fonte complementar: Texto de José Fernando de Freitas – Médico, Psicoterapeuta corporal e Constelador  Sistêmico Familiar e Organizacional.

Por Luciane Strähuber – Educadora, Consultora e Terapeuta Integrativa

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