
À medida que o apelo às redes sociais vem aumentando ao longo dos anos, percebo a crescente e ilusória necessidade criada para que sejamos perfeitos em tudo. Essa cobrança externa é tão forte que a quantidade de influencers e suas “loucuras fotográficas”, os filtros para imagens pessoais nos perfis virtuais e os softwares de aprimoramento de imagem também crescem vertiginosamente – do meu ponto de vista, uma poluição visual que nos faz esquecer o natural, o normal, o real.
Muitas vezes, esquecer de quem realmente somos em essência humana e divina parece ser moda. Mas, isso pode gerar uma série de problemas emocionais e psicológicos, principalmente para os mais jovens, já que a vida virtual é uma, e a realidade vivida é outra. Distúrbios de personalidade, dissociação cognitiva, ansiedade, depressão e síndromes de pânico são alguns exemplos do resultado desse estímulo. E quando se chega perto dos 40 anos, a famosa “crise da meia-idade” ataca. E na maioria dos casos que já acompanhei, faz com que tudo o que reprimimos venha à tona sem aviso prévio.
Em contrapartida, vemos movimentos que incentivam e nos chamam para o oposto: fotos sem maquiagem, sem filtros; fotógrafos que fazem questão de integrar o que consideramos imperfeito em nós – talvez para outros olhos, um charme pessoal! Campanhas de marketing com modelos de diferentes belezas, etnias, cujo objetivo é manter em alta as suas perfeitas imperfeições: aquelas que fazem cada um de nós Ser único!

Seguindo as pesquisas nesse cenário digital e observando o quanto esse estímulo ao narcisismo afeta o estado emocional e nossas interações ou isolamento social, sendo capaz de ditar tendências, comportamento e até mesmo modificar valores, além de mudanças nada saudáveis na forma de pensar e agir, trago uma sugestão de vídeo-palestras sobre o assunto.
Junto dele, encontramos dados de uma pesquisadora nos EUA sobre como lidamos e o que fazemos com nossas vulnerabilidades, vergonhas, culpa e sentimentos que tendemos a deixar escondidos, compartimentados ou guardados à sete chaves dentro de nós. A pesquisadora é Brené Brown, professora da Universidade de Houston, terapeuta e autora do livro que virou best seller: “A Coragem de ser imperfeito“.
Certamente, todos temos ou já tivemos muitas justificativas convincentes para evitarmos olhar, reconhecer e assumir nossas vulnerabilidades, principalmente quando envolvem situações traumáticas, o que de fato é compreensível. Contudo, em certas ocasiões, reconhecê-las é proibido, é feio, um tabu – vejo isso no seio de famílias onde culturalmente existem tradições muito rígidas ou mesmo em sistemas sociais onde a cobrança pela perfeição e o sucesso é intensamente nutrida pela competitividade.
Enfim, já tivemos uma boa desculpa para evitá-los, com a falsa ideia de que vamos nos enfraquecer ao reconhecê-los, seja ao verbalizar sobre o que não nos faz bem, seja ao expressar para outros as situações que nos retraumatizam, nos tiram as forças e nos diminuem. Infelizmente, a ideia mais vendida ainda é: para uma vida plena e de sucesso, podemos trabalhar com todo tipo de ferramenta mental – e apenas mental – para evitar falarmos sobre “o Lado B” da nossa existência.

Seria este um valor invertido, que enaltece o brilho e nega a sombra? Como vamos nos transformar, nos curar e progredir se negamos o que ainda está obscuro pela consciência? Se mantemos na espiral do silêncio de nossas cavernas interiores as partes de nós que aguardam a nossa presença para serem liberadas? Se escondemos o que sentimos em detrimento da mente e da imagem, para onde vão as emoções que não expressamos? O fato é que quando liberamos emoções guardadas, elas abrem espaço para que o novo, o belo e a luz do Ser possa entrar.
Numa visão terapêutica, tudo o que é imperfeito ainda é passível de mudança, de evolução. Tudo o que é perfeito, está concluído. O processo de reconhecê-los é justamente o que nos traz força para perseverar e seguir adiante, o que chamo de autopresença e autocuidado, uma vez que através desse reconhecimento com respeito e amor, deixamos de negar ou reprimir partes de nós que integram a totalidade do nosso ser.
É através desse olhar que reconhece, libera e integra que também somos capazes de reconhecer nossos limites, o eterno exercício de saber dizer “não” para algo que não serve para o nosso bem, para dizer “sim” para algo capaz de nos fortalecer e nos tornar melhores.
Meu sincero desejo de que essas vídeo-palestras possam inspirar você a reconhecer suas fragilidades, a descer profundamente na espiral do silêncio de si e encontrar as portas que ainda precisam ser abertas para o seu desenvolvimento e fortalecimento interior. E você vai se perguntar: mas onde estão as chaves para abrir cada uma dessas portas? Ousaria dizer: você já as tem em suas mãos.

Procure apenas estar presente no momento quando disser para si que precisa levar a luz da consciência para esses recantos interiores. Prepare um ambiente harmônico onde você não seja interrompido, crie o seu momento de meditação. Peça a clareza para que o processo de reconhecimento saia do inconsciente e vá para o consciente. As chaves virão através de insights, sonhos, sinais que recebemos do universo e de outras pessoas em nosso dia-a-dia.
Tudo isso porque essas chaves não são mentais, não são racionais em primeira instância. Elas são internas e “giram” na hora em que estamos prontos para recebê-las, para que uma porta das profundezas de nós seja aberta – e claro, em muitos momentos vamos precisar de apoio terapêutico e da ajuda de pessoas que confiamos.
Com esta porta aberta, sempre vem a clareza e a compreensão de que para cada raiz reconhecida e curada, há uma força que retorna a nós, que precisávamos para dar o próximo passo. É o princípio do Yin e Yang, do símbolo do infinito, da força da raiz que precisa ir até o topo da copa da árvore para gerar o fruto e o florescimento, um eterno renascimento! Namaste!
Luciane Strähuber – Consultora e Terapeuta Integrativa
Fonte complementar: https://www.ted.com/speakers/brene_brown