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A Casa das Raízes: Um Lugar para Você se Renovar e se Recriar

Casa nas raízes – cenário do filme: The Hobbit

Compartilho e transcrevo um texto que considero uma quebra de paradigma perante crenças e verdades absolutas, palavras além do tempo e do espaço que nos convidam a questionar quem somos, inspiradoras para todos os que buscam aprofundar cada vez mais em suas raízes a fim de buscar suas próprias verdades, a força e a coragem, a firmeza e a sabedoria diante dos próximos passos na jornada.

Esse belíssimo texto é de autoria da escritora e astróloga Dana Gerhardt, cujo sensível e detalhado relato nos leva a uma análise profunda das suas bases emocionais – à semelhança das raízes emocionais de muitos de nós que, nesse momento de isolamento social, nos chamam para um mergulho interior profundo porque desejam ser olhadas e ouvidas.

Dentro da escuridão da nossa “terra interior” e das nossas raízes, aprendemos a desapegar dos medos e das ilusões, a reconhecer as nossas verdades nuas e a nossa força impulsionadora, a resgatar aquilo que nos nutre daquilo que não nos serve mais, separando as ervas daninhas e as raízes podres daquelas que precisamos cuidar e fortalecer para nos tornarmos, a cada passo, aquele que desejamos ser a cada dia.

Desejo a você uma profunda jornada pelo universo das suas raízes. Lá você encontrará dores e lágrimas, medos, ilusões e morte, memórias de fracasso e de sucesso, mas também se deslumbrará com a vida e a luz que nelas pulsa, reencontrará a força e a coragem, a vitalidade e o movimento, aprenderá sobre flexibilidade, progresso e superação.

O caminho pelas nossas raízes é indubitavelmente compulsório. Em algum momento da jornada pela vida, nessa espiral infinita da criação e da evolução, recebemos um chamado para aprofundarmos para dentro de nós. Essa espiral descendente – uma espiral do silêncio – nos leva a inúmeras portas, cujas chaves somente encontraremos nas raízes do nosso ser, guiados pela luz da consciência e pela sabedoria ancestral da alma. Voltaremos dela muito diferentes, mais sábios, translúcidos e fortes.

E para saber se você está sintonizado com a força vital que vem das suas raízes, pergunte-se: “Quando foi que você passou a sentir desconforto com o território do silêncio?” Essa é uma das perguntas que os xamãs fazem a pacientes deprimidos, desajustados ou desalentados. Eles perguntam também: “Quando você parou de cantar?” e “Por que parou de dançar?” Alinhar a vida pessoal e profissional com o chamado das raízes os desígnios da alma é uma dificuldade para muitos, mas ainda assim um desafio totalmente possível, necessário e recompensador. Seja leal a você em primeiro lugar, para que o movimento de ir e voltar, de interiorizar e exteriorizar, de silenciar e expressar faça sentido! Namaste!

A Casa 4: Nossas Raízes – Por Dana Gerhardt

“Quando eu era criança, pelo menos uma ou duas vezes a cada verão, minha mãe mandava eu e minha irmã labutarmos no morro que havia em nosso quintal, extirpando os dentes-de-leão e a relva de mostarda que floresciam lá. Ervas daninhas têm que ser puxada pela raiz, senão elas simplesmente voltam a crescer. Mas, empoleirada no morro com minha caixa de papelão, enquanto a janela da cozinha que mantinha os olhos vigilantes da minha mãe era tão pequena e distante, e a terra abaixo era tão dura e rochosa que as gramas eram presas ao solo, escolhi a saída mais fácil. Arranquei aquela joça pelo caule.

Sentimentos de infelicidade são bem parecidos com ervas daninhas. Deixe de puxá-los pela raiz e eles crescerão de novo. No entanto, quem vai querer investigar a fundo o solo onde as emoções crescem? Encontrar as raízes do sentimento pode ser difícil. Você pode aprender isso sob o céu cinzento de um trânsito Saturno/Lua. Se você for como a maioria das pessoas, vai tentar ignorar sua depressão. Vai fazer uma cara feliz para aqueles que ama. Vai fingir ser atenciosa(o), cabeça fria ou dominante no trabalho. Vai enviar energia para sua Casa 1: da imagem, para sua Casa 7: do parceiro, ou para sua Casa 10: da carreira. Mas no final, inexoravelmente, você vai cair. E é na Casa 4 que você vai aterrissar.

É na Casa 4 que vamos parar quando desmoronamos. Ela rege o lar e a família, os ancestrais e a terra natal. Ela propicia um retiro literal. Se forçarmos demais a nossa própria barra, é provável que tenhamos que ficar em casa, acamados. Se sofrermos uma perda devastadora, possivelmente bateremos à porta de um membro da família, pedindo que nos acolha. Mas a 4 é também um retiro da imaginação. É a nossa lareira psíquica. Contém as memórias que tanto nos confortam quanto nos assombram. Como base de nosso mapa, representa tanto o terreno quanto o mistério do nosso ser. Se nos debruçarmos sobre o abismo da 4, encontraremos, como escreveu o poeta Rilke, “algo escuro e como uma trama, onde cem raízes bebem em silêncio” (1).

Não foi essa a definição que obtive de meus livros de astrologia. Tenho o Sol na Casa 4. Os livros diziam que, por isso, eu me importaria profundamente com a minha família. Quando criança, isso era verdade para mim, mas aí, toda criança se importa com a família. Já adulta, quando minha família se mudou para mais de mil km de distância, nunca fui tão feliz. Passei a ter espaço à vontade nos feriados. Os livros diziam que os relacionamentos familiares seriam para mim um sustentáculo. Vi meu pai duas vezes em vinte anos. Minha irmã expulsou-me de sua vida uma dúzia de vezes. E agora, minha mãe ariana aventureira está comprando um lar na Eslováquia. Quando eu ouço os outros falarem num tom pegajoso sobre o quanto sentem falta de suas famílias, sou uma antropóloga observando uma cultura estrangeira. Tenho o conhecimento de seus rituais, mas não os entendo.

Os livros diziam que eu poderia apreciar minha família extensa, ou me interessar pela exploração da minha árvore genealógica. Celebrações em família com tias, tios e primos pararam quando eu tinha 5 anos. Minhas tias dos dois lados da família fizeram genealogias extensas. Tenho pouca curiosidade sobre aquelas páginas cheias de nomes. Tampouco as velhas fotos de tias-avós e bisavós me inspiram muita conexão. Quando meu filho nasceu, não lhe dei nem meu sobrenome nem o do pai. Inventei um, algo aliterativo. Eu gostava de sua sonoridade – o que parecia mais interessante do que carregar o nome de ancestrais que eu não conheci.

Os livros diziam também que com um Sol na Casa 4, eu teria sorte com imóveis. Isso era interessante. Por anos, esse era o meu sonho. Não que eu quisesse conduzir clientes curiosos por toda parte ou organizar open houses todo fim de semana. Eu só queria ter sorte suficiente para comprar a uma casa própria. Nos meus vinte, trinta anos, eu não podia caminhar ou dirigir por uma rua residencial sem sentir pontadas de inveja. Como é que todas aquelas pessoas conseguiram ter um lar próprio? Por que eu não conseguira? Parecia um sonho impossível. Se for verdade que a casa do Sol identifica a sua jornada do herói, então talvez comprar um lar tenha sido a minha.

Foi definitivamente um marco para mim quando comprei minha primeira propriedade. Eu a vendi durante uma baixa no mercado e perdi dinheiro. No lar seguinte, ganhei o triplo do que havia perdido antes. Mas a minha sorte parecia mais baseada no mercado do que na astrologia. Todo mundo ganhou e perdeu dinheiro na mesma época que eu. Na noite passada, um amigo me ligou com uma oportunidade de investimento imperdível. “Rogue Valley está começando a bombar!”, disse ele. “Se fizermos uma vaquinha e comprarmos algumas propriedades para alugar em Grants Pass agora mesmo, em cinco anos estaremos feitos na vida. É sério, devíamos fazer isso!” Lembrei do meu Sol de Casa 4. Era tentador. Busquei alguma confirmação interna do meu destino como uma magnata de imóveis. Não havia nenhuma faísca afirmativa.

Nenhuma das leituras sobre a Casa 4 nos livros-texto parecia muito correta. Precisei ir mais a fundo – de volta ao básico. O Sol na Casa 4 descreve literalmente um nascimento perto da meia-noite. Essa foi, de fato, a origem dos ângulos do horóscopo. Com os quatro ângulos, os antigos egípcios marcavam a volta diária do deus Sol. O Ascendente simbolizava o nascer do sol e os inícios; o Meio do Céu, o zênite de meio-dia do Sol e o sucesso público de uma pessoa; o Descendente evocava o pôr do sol, o declínio e a dissolução do eu solar. O ângulo que marca a Casa 4, o IC, lembrava a meia-noite, período no qual o deus Sol ficava escondido entre a morte e a nova vida. O IC representava um ponto de transformação, entre o velho e o novo dia.

Seja qual for a sua hora de nascimento, qualquer planeta na 4 vai ter essa realidade de “meia-noite”. Território de Casa 4 é o que você encontra quando, tarde da noite, fecha os olhos. É aquilo com o que se depara quando se está totalmente sozinho no escuro. Planetas aqui ficam sob a sua superfície. Eles são tão profundamente privados quanto aqueles na 10 oposta são inescapavelmente públicos. É difícil falar sobre planetas na Casa 4 com clientes. Seus significados são claros o suficiente. Plutão na 4 sugere uma infância cheia de segredos e lutas de poder. Netuno indica um segredo de família que permeava o ar mas sobre o qual nunca se falava. Saturno sugere um lar impregnado da dinâmica do medo e do controle. Você pode falar sobre essas histórias com clientes. Mas abri-las e tocá-las, pois que permanecem na memória, é difícil.

Agora, feche os olhos. Quem ou o que está aí? Essa é a realidade da sua Casa 4. E é assim que tenho pedido às pessoas para entrarem nessa casa por anos. Sua família estará ali, em suas memórias. Seus ancestrais estarão ali, na pulsação rítmica do seu sangue. Seu lar estará ali, como a base segura que permite que você se conecte com seu eu mais interno. Mas descobrirá mistérios ainda mais grandiosos. Na Casa 4 você encontrará o centro do seu espírito, sua fonte de vida, sua pátria interna de renovação. Haverá ocasiões na vida em que você precisará se recriar – e você o fará descendo até a 4 primeiro. Com o Sol em minha própria Casa 4, levou anos para que eu aprendesse que a minha jornada do herói não era tanto comprar um lar. Em vez disso, era aprender sobre criar um lar e sentir-me em casa no meu mundo. Tive que aprender isso não apenas uma, mas muitas vezes.

A maneira mais fácil de discutir trânsitos ou progressões na 4 é começando pelo lar literal. Plutão ou Urano na revolução solar da 4 é provavelmente um indicador de mudança para um novo lar. Netuno na 4 pode significar vazamentos ou danos causados por água, a descoberta de substâncias tóxicas no porão – talvez uma infestação de fantasmas! Saturno transitando a 4 natal sugere um período em que a casa nos parece apertada ou sobrecarregada de deveres e obrigações da família.

O que acontece na casa externa frequentemente espelha sua situação doméstica. Plutão transitando um planeta da Casa 4 pode inspirar tanto reformas quanto brigas conjugais. Júpiter transitando a 4 pode nos fazer sentir abençoados – com um lar espaçoso e apoio familiar em abundância. Marte na 4 pode trazer um intruso, mas é mais comum que denote conflito. Esse é um período em que a raiva da família não será suprimida.

Menos fácil de articular, mas talvez mais universalmente verdadeiro, é como os trânsitos pela 4 são experimentados num nível mais interno. Memórias indesejáveis podem vir à tona. O imaginário de sonhos pode ser particularmente estridente. Você pode sentir o seu corpo exausto. Pode ser que você note uma urgência de ficar em casa debaixo do cobertor. Isso são sinais. Estão chamando-o para a tarefa de “volta ao lar” – o retorno cíclico a si mesmo.

Arte de Josephine Hall

O processo de volta ao lar é descrito com riqueza de detalhes por Clasissa Pinkola Estés, em “Mulheres que correm com os lobos” (2) Como modelo arquetípico para essa necessidade recorrente, ela oferece “Pele de foca, pele de alma”, uma história que aparece de várias formas em muitas culturas do Norte. A história é assim: um dia, um caçador solitário descobre uma visão marcante – um grupo de mulheres rindo, cintilantes e completamente nuas dançando num rochedo. Elas são irmãs focas, que trocaram de pele para dançar brevemente no mundo da superfície, antes de retornarem ao mar. O caçador não consegue se conter. Rouba uma das peles e faz um acordo com a desafortunada jovem mulher foca. Se ela concordar em ser sua esposa e ter com ele um filho, ele a deixará partir em sete anos.

O que é que ela pode fazer a não ser dizer sim? No sétimo verão, quando chega o momento de ela vestir sua pele e voltar para casa, o caçador muda de ideia. Ele recusa-se a devolver-lhe a pele de foca. A pele humana dela começa a secar. Seus cabelos caem. Seus olhos tornam-se opacos e seu corpo murcha. Claudicando e quase cega, ela é como uma pessoa em situação de rua, de quem comumente desviamos o olhar.

“A situação de rua assombra todos nós”, escreve J. Edward Chamberlin. “Uma das razões porque passamos tão apreensivos por pessoas em situação de rua é que não queremos nos aproximar demais de algo que nos amedronta tão profundamente. Ou porque é algo que já conhecemos. A depressão crônica e a fadiga são epidêmicas. Sugerem uma espécie de desapropriação psíquica uma forma interna de situação de rua. É o que ocorre quando passamos muito tempo sem tocar a fonte de vida em nossa Casa 4.

Todos nós já passamos por um “roubo de pele de foca”. Dissemos sim a algo no mundo da superfície. Talvez tenha sido uma promoção que traria mais dinheiro. Ou um relacionamento que roubou o nosso coração. Talvez tenha sido uma gravidez. Às vezes é ingenuidade ou pura estupidez que nos deixa vulneráveis ao roubo psíquico. Podemos ter entrado numa onda de compras exagerada. Ou passado a fazer parte de um grupo religioso questionável. Mas nem todos os roubos de nossa pele de foca são maus negócios. Poderia ser qualquer coisa – mesmo coisas boas – que nos afasta de nós mesmos.

Há um conflito inevitável entre as necessidades da alma e as demandas da vida pública. Da 4, somos chamados a servir à sociedade no nosso papel de Casa 10. Nossa Casa 2 quer que tenhamos o que comer. Nossos filhos nos chamam para a 5. Nossos parceiros querem atenção na nossa 7. Na história da jovem mulher foca, podemos ler o caçador como o ego. É trabalho dele levar-nos a esses mundos exteriores. Mas se o caçador nos conduzir para muito longe de nossa pele psíquica, perderemos ânimo sustentador. Não importa quão boas nossas escolhas iniciais tenham sido.

Trânsitos e progressões na 4 podem restaurar o nosso espírito. Isso inclui trânsitos do Meio do Céu. Muitas vezes esquecemos que esses são também trânsitos do Fundo do Céu, de tão focados que estamos nos problemas de carreira e identidade pública. Mas para manter as nossas vidas exteriores inspiradas pela alma, não podemos negligenciar a base de nossa psique. Para vivermos em equilíbrio temos que ficar perto de nossas peles de foca e manter um ritmo natural de ir e voltar.

O signo em nossa 4 sugere a melhor maneira de voltarmos à nossa plenitude. Ele faz alusão à sensação de vestirmos a nossa pele de foca. Touro na 4 precisará aterrar na sensualidade da terra, ser nutrido pelo tato, por hábitos familiares ou pela segurança das coisas materiais. Aquário na 4 se sentirá restaurado através de mexidas na rotina ou tendo a liberdade de pensar e mover-se sem emaranhamentos. Áries na 4 tem que vestir a pele do “eu, eu, eu!” periodicamente. Pode acontecer de eu esquecer as coisas mais importantes que conheço.

*******

Alguns meses atrás, depois da meia-noite, acordei repentinamente. Estava escuro, eu estava sozinha. Meu parceiro havia saído para uma divulgação literária. Os enteados estavam com a mãe. Meu filho estava com o pai. Pela primeira vez desde que me mudei para Oregon, estava dormindo sozinha. Para começar, lembrei-me de que isso era a minha definição de Casa 4. OK, disse eu, está na hora. Internamente, eu desejava as paredes familiares do meu eu da meia-noite. Mas era incômodo, estranho. Como aquele período de silêncio desconfortável com um velho amigo que deixa claro para ambos que vocês, na verdade, não se conhecem mais. Eu não estava gostando do silêncio. Queria voltar a dormir, ler um livro, ligar a TV.

Quando foi que você passou a sentir desconforto com o território do silêncio?” Essa é uma das perguntas que os xamãs fazem a pacientes deprimidos, desajustados, ou desalentados. Eles perguntam também “Quando você parou de cantar? ” e “Por que parou de dançar?”. Eu não estava mais cantando ou dançando em casa – sinais de que a mulher da pele de foca precisava de sua pele. Havia outros sinais. Eu estava sofrendo de uma fadiga insuportável e de tantas alergias alimentares que eu nem sabia dizer quantas. 

Minha vida estava cheia de emaranhamentos, novas demandas em meu tempo, novas pressões para ter sucesso; também, muitos apegos inconscientes haviam retornado, velhos padrões de relacionamento, mensagens interiores de autovalor, um vício do fazer. E a parte do meu sistema de raiz que costumava se estender profundamente em devaneios, maravilhamento e paz, a parte que sabia a fundo quem eu era e a que vim, estava agora murchando, quase seca. Poderia eu regar essas raízes novamente?

Não sei se o que aconteceu em seguida foi um passo para a frente ou para trás em minha jornada do herói. Mas com Sagitário em minha Casa 4 eu precisava de liberdade. Saí de casa. Comprei minha casa própria descendo a rua. Nos primeiros dois meses, eu estava em um estado de colapso. Mas no final eu comecei a cantar de novo, melodias sem nexo improvisadas. Comecei a dançar de um jeito que faz meu filho revirar os olhos e suspirar “Mã-ãe” como uma palavra de duas sílabas.

Eu pude sentar em minha sala de estar e despir-me dos papéis pelos quais sou conhecida – mãe, amante, astróloga, filha, escritora, irmã, amiga. Pude dissolver minhas pressões, medos, memórias de sucessos e fracassos, a dor dos meus desejos. Eu podia não ser nada, exceto aquela que estava sentada ali, respirando. E o mundo ao meu redor ficou mais vasto novamente. Minha saúde e relações amorosas melhoraram. Essas coisas acontecem quando a sua conexão com a 4 está certa.

No excelente livreto de Deborah Houlding sobre significados tradicionais das casas, a leitura da regência da Casa 4 parece poesia: “Tudo o que se relaciona com a base e as raízes de nossa existência… Ela rege o tesouro escondido, e os tesouros da terra, como minas e minerais, pedras preciosas, petróleo, poços e suprimentos de água… Rege a terra, a qualidade e a natureza do solo (se é fértil, pantanoso, arborizado, pedregoso ou árido), e todos os prédios e construções nele… Dizem que indica o início e o fim de todas as coisas, representando as experiências da infância que trazem à tona uma experiência de vida emocional inconsciente, a vulnerabilidade da velhice, o processo de morte, e funerais”.

Olhar para a 4 somente como família ou questões imobiliárias diminui esse rico legado, como o faz o controverso debate sobre o qual os pais a Casa 4 representa – mãe ou pai. A confusão parental vem de um conflito sobre regentes planetários. Na astrologia tradicional, o Sol rege a 4 – daí a sua associação com o pai. A astrologia moderna diz que a Lua rege essa casa – daí a sua ligação com a mãe. Mas eu concordo com Howard Sasportas: é impossível fixar a Casa 4 a qualquer um dos pais.

O papel que cada genitor representa no desenvolvimento de uma criança – e não as regências planetárias – pode ser o caminho mais seguro para localizar os pais em um mapa. Sasportas elabora um argumento convincente de que vamos encontrar o “pai/mãe-modelo” na nossa 10. Esse é aquele que teve a maior influência em nosso desenvolvimento social. A 4 descreve o pai/mãe mais “oculto” – aquele cuja influência pode ter sido menos óbvia, mas possivelmente mais forte em um nível inconsciente.

Em “As Doze Casas”, Dane Rudhyar deixa completamente de lado o debate parental. Ele valida a visão tradicional da 4. Ela realmente possui nossa base terrestre – dos fatos superficiais imobiliários e o lar até tudo o que a terra implica – o solo do qual as coisas crescem e para onde as coisas voltam. Mas essa visão também sugere uma mentalidade arcaica de “terra plana”. Ela esquece que a Terra é um globo a girar, não um chão sólido esticando-se naquela direção eternamente. Se, em vez disso, diz Rudhyar, imaginarmos nossas raízes descendo por dentro de uma esfera, alcançaremos um significado novo e mais profundo para a 4. Descobriremos “a experiência de centro”. Encontraremos a matriz de nossa natureza sentimental. Estar na 4 é estar centrado no eu. A Casa 4 contém o mesmo tipo de poder rítmico doador de vida que o nosso coração.

Quanto mais a pessoa explora as profundezas da 4, menos esta parece um lugar que alguém possa encontrar num mapa. Parece mais um estado de espírito. Isso não é tão diferente da definição de lar de Clarissa Pinkola Estés: “O lar é aquele ânimo ou sentido constante que permite que experimentemos sentimentos que não são necessariamente sustentados pela realidade mundana: maravilhamento, visão, paz, o estar livre de preocupação, das demandas e do barulho constante”. Nesse lar da imaginação, há espaço tanto para o Sol quanto para a Lua. Essa casa 4 nos nutre como uma mãe lunar, nos sustenta como um pai Sol. Convida-nos a cantar e a dançar ao seu ritmo inconstante. Contém aquele castelo onde somos rei ou rainha.

Fonte original do texto: https://www.astro.com/astrologia/in_dgfourthhouse_p.htm | Traduzido do inglês por Rômulo Craveiro de Sousa Tartaruga (Brasil) | Mais textos e e-books da autora em: https://mooncircles.com/product-category/ebooks/

Fonte das Obras e Notas: 1. Rainer Maria Rilke, Rilke’s Book of Hours, Anita Barrows and Joanna Macy, translators (Riverhead Books, 1996), p. 49 | 2. Clarissa Pinkola Estes, Women Who Run With the Wolves, (Ballantine Books, 1992), pp.256-297. (Nota do tradutor: Clarissa Pinkola Estés, Mulheres Que Correm com os Lobos, traduzido por Waldea Barcellos (Rio de Janeiro: Rocco, 2014)) | 3. Angeles Arrien, Gathering Medicine (Sounds True Audio, 1994) | 4. J. Edward Chamberlin, If This Is Your Land, Where Are Your Stories? (Alfred A. Knopf, 2003), p 78 | 5. Deborah Houlding, The Houses: Temples of the Sky (Ascella Publications, 1998) | 6. Howard Sasportas, The Twelve Houses (The Aquarian Press, 1985), p. 57 (Nota do tradutor: Howard Sasportas, As Doze Casas, traduzido por Monica Joseph (São Paulo: Ed. Pensamento, 1999)) | 7. Dane Rudhyar, The Astrological Houses (CRCS Publications, 1972), pp. 73-79 (Nota do tradutor: Dane Rudhyar, As Casas Astrológicas, traduzido por Joaquim Palacios (São Paulo: Ed. Pensamento, 1993)). Estes, ibid., p. 284

Por Luciane Strähuber – Educadora da Terapêutica Integrada

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