Toda vez que prescrevo ou ensino a confeccionar qualquer tipo de produto cuja composição possua óleos essenciais, procuro chamar a atenção para a quantidade de gotas. Devem ser respeitados o seu uso de acordo com o tipo de produto, se para o ambiente ou para o corpo, o tipo de pele e a parte do corpo, a condição da saúde e o objetivo do tratamento, se há sensibilidade e/ou alergia, assim como gravidez, uso de certos medicamentos e o histórico do paciente.
Essa cautela tem um importante motivo: uma gota de óleo essencial equivale, em média, a 15 xícaras de chá da planta e/ou a 25 saquinhos de chá da erva. Justamente pelo fato de serem tão concentrados, os óleos essenciais são capazes de atuar de modo tão eficaz em nosso organismo. No entanto, é por este mesmo motivo que o seu uso terapêutico requer cuidado, conhecimento e orientação adequada. Essa também é a razão pela qual eles geralmente não são baratos e diferem dos óleos sintéticos ou artificiais.
A maioria dos óleos essenciais comercialmente disponíveis no mercado são vendidos de forma segura para o uso, e quando manuseados de maneira apropriada, os riscos envolvidos na sua utilização em ambientes domésticos ou profissionais/clínicos se tornam muito pequenos.
Registros de intoxicações graves causadas por óleos essenciais não são frequentes, contudo, podem ocorrer por ingestão de quantidades excessivas de óleo essencial puro (acima de 10 mL de óleo essencial puro) ou pela frequência de aplicação superior ao recomendado, especialmente em crianças menores de sete anos – atento aqui também aos nossos pets, cuja sensibilidade olfativa é elevada.
Outra informação importante é o fato de que alguns óleos, dependendo da frequência com que são aplicados ou ingeridos, podem ser cumulativos para alguns órgãos – o hortelã-pimenta, por exemplo, é ótimo para a digestão, mas em doses excessivas é hepatotóxico. Assim, precisamos lembrar que a mãe natureza tem uma sabedoria própria: tem pronto na folha de cada planta a quantidade perfeita das moléculas de óleo essencial, a fim de não nos intoxicarmos. Mas, mesmo para os chazinhos que costumamos tomar, o ideal é que estejamos sempre variando as ervas para o corpo não ficar intoxicado através do efeito cumulativo da planta.
FATORES QUE INFLUENCIAM A SEGURANÇA
- 1. QUALIDADE DO ÓLEO ESSENCIAL
Um óleo sintético, ou seja, adulterado, não possui a mesma composição química de um óleo essencial natural, logo não poderão dar os mesmos resultados terapêuticos, além de aumentarem a probabilidade de uma resposta adversa no organismo. Ao adulterar ou isolar um princípio considerado ativo, perde-se os compostos orgânicos responsáveis pelas propriedades medicinais dos óleos e eles não atuarão de modo medicinal e eficaz. Portanto, fique atento ao rótulo e compre apenas óleos essenciais que incluam o nome científico da planta e sua origem.
- 2. COMPOSIÇÃO QUÍMICA
Cada óleo essencial possui características bioquímicas particulares, que irão designar a ação terapêutica e o método de utilização mais adequados. Conhecer a composição química do óleo essencial nos revela tanto o seu princípio ativo majoritário – que indicará as melhores vias de atuação dele – como também indicará a presença de componentes que requerem maior cautela no seu uso.
É o caso das furanocumarinas, componentes que indicam que o óleo tem a capacidade de tornar a pele fotossensível e, portanto, não devem ser utilizados antes da exposição solar. Esse é o caso dos óleos cítricos como limão siciliano ou taiti, laranja doce ou amarga, pettigraint, tangerina, entre outros. Óleos essenciais ricos em aldeídos como a citronela (por exemplo citronelal, citral) e em fenóis como a canela e o cravo (por exemplo, aldeído cinâmico e eugenol) podem causar reações na pele se aplicados sem diluição. Os óleos ricos nestes componentes nunca devem ser aplicados puros sobre a pele e, além da diluição, também podem ser associados a outros óleos com capacidade de atenuar seus efeitos irritantes.
- 3. MÉTODO DE APLICAÇÃO
Os óleos essenciais atuam no organismo por vias fisiológica, psicológica e energética. Dentre as formas de aplicação e utilização mais comuns, temos: inalação, massagem, emprego em cosméticos, bandagem ou compressas, banhos e uso interno. Outras utilizações também envolvem produtos naturais de limpeza e higiene. O método de aplicação mais adequado pode variar de acordo com as características particulares de cada óleo essencial, bem como o próprio tratamento a ser realizado. Cada método de aplicação, por sua vez, possui orientações de segurança que precisam ser respeitadas. O uso interno de óleos essenciais não deve ser realizado sem a orientação e o acompanhamento de um profissional adequado – por exemplo, em dosagem superior a 300 mg (1 gota de óleo essencial = em média 30mg) ou emprego de óleos que não sejam puros.
- 4. DOSAGEM E DILUIÇÃO
Para uma dosagem e diluição seguras devem ser respeitados tanto as características de cada óleo essencial, bem como a sensibilidade do próprio paciente. Qualquer uso excessivo de óleos essenciais pode causar irritação ou outros efeitos indesejados devido à sua natureza lipofílica. Como aromaterapeuta e alquimista, indico não se ultrapassar o uso de 2%.
De modo geral, as diluições recomendadas para aplicação tópica variam entre 1 e 5%, o que normalmente não representa preocupações de segurança. Assim, por cautela estipulou-se, tendo por base os trabalhos na área da toxicologia, não ultrapassar a quantidade de 3% de óleo essencial em 15 mL de óleo vegetal carreador, de modo que a quantidade total dos componentes do óleo essencial seja inferior a 2000 vezes o valor da sua dose letal. Normalmente, utiliza-se a concentração de 2%, entretanto, em crianças com menos de 7 anos de idade e em pacientes muito enfermos e/ou debilitados, usam-se concentrações menores de 1%.
- 5. INTEGRIDADE DA PELE
A pele sensibilizada, doente ou inflamada é frequentemente mais permeável aos óleos essenciais e encontra-se mais suscetível à ocorrência de reações adversas e irritações. Quando fragilizada ou inflamada, a pele tende a absorver uma quantidade de óleo essencial superior a quantidade que normalmente seria absorvida, não só piorando a condição da pele já fragilizada, como também provocando novas reações de sensibilização. Portanto, o ideal é não se utilizar os óleos diretamente na pele nesses casos ou, dependendo do problema, reduzir bastante a porcentagem.
- 6. TEMPO QUE PERMANECE NO ORGANISMO
Pelo fato de terem uma composição química muito complexa, podem chegar a ter mais de 200 componentes químicos diferentes em um único óleo essencial. Formados basicamente por terpenos e derivados terpênicos, os óleos essenciais possuem uma característica que os diferencia de grande parte dos medicamentos e cosméticos. Eles são lipossolúveis, isto significa que penetram facilmente na pele (através dos dutos da glândulas sudoríparas e do folículo piloso) e rapidamente chegam à corrente sanguínea. E é por isso que atualmente existem muitas pesquisas utilizando os componentes dos óleos essenciais para aumentar ou facilitar a penetração de alguns medicamentos.
É possível detectar seus componentes químicos no sangue, suor ou ar expelido cerca de 5 minutos após a aplicação feita por massagem ou compressa. Então, se em apenas 5 minutos estão na corrente sanguínea, quanto tempo permanecem no organismo? Pesquisas realizadas na França demonstram que alguns componentes dos óleos essenciais, como os sesquiterpenos, permanecem no organismo por até 5 dias. Já os monoterpenos permanecem por até 3 dias no corpo. Nesse sentido, menos é sempre mais na aromaterapia. Se houver exagero nas dosagens ou utilizar os óleos essenciais muitas vezes ao dia, o que vai acontecer a médio e longo prazo é ter um fígado e/ou rins lesionados por tanto trabalho para metabolizar os excessos.
- 7. IDADE DO PACIENTE
Bebês e crianças pequenas são mais sensíveis à potência dos óleos essenciais e as diluições seguras geralmente variam de 0,5 a 2,5%, dependendo da condição. Certos óleos essenciais devem ser evitados ou devem ser empregados somente sob a orientação de um profissional responsável. Pacientes idosos podem ter mais sensibilidade cutânea e também devem utilizar concentrações reduzidas. O que recomendo é o uso de um frasco com roll-on, diluindo os óleos essenciais em óleos vegetais ou carreadores.
O uso incorreto dos óleos essenciais não apenas coloca em risco o bem-estar do paciente, como também inviabiliza a eficácia terapêutica, levando a deslegitimar a prática da aromaterapia. Por isso, para tratamentos adequados, de modo a se obter os melhores resultados e assegurar a sua segurança, sempre recomenda-se a orientação de um profissional especializado. Somente ele poderá avaliar e também acompanhar o caso em particular e assim indicar a melhor abordagem.
No caso da compra de óleos essenciais para o ambiente doméstico, pesquise, observe e/ou solicite informações que contenham as formas de uso de acordo com o que você deseja. Assim, estará aprendendo de forma eficaz e segura, e podendo passar adiante sua experiência com responsabilidade.
Luciane Strähuber – Educadora da Terapêutica Integrada, Aromaterapeuta e Alquimista.
Para aprofundar o conhecimento relativo à utilização dos óleos, suas funções, formas de uso e toxicidade, assim como estudos científicos sobre as matérias-primas e a bioquímica, super indico o livro Farmacognosia: da planta ao medicamento. SIMÕES, Cláudia Maria Oliveira – Artmed. Em edição mais atual, encontra-se com o título: Farmacognosia: do produto natural ao medicamento.
Fonte Complementar: Terra Flor Aromaterapia/ Grupo Laszlo – Aromaterapia e Aromatologia/ NATIONAL ASSOCIATION FOR HOLISTIC AROMATHERAPY, NAHA. Safety Information / WOLFFENBUTTEL, Adriana Nunes. Base da Química dos Óleos Essenciais e Aromaterapia: Abordagem Técnica e Científica
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