Na mitologia chinesa, Kuan Yin é conhecida como a Mestra da Compaixão e da Misericórdia. Ela teve uma vida no planeta como todos nós e somente depois de sua morte foi reconhecida dessa forma. No Vietnã, também é conhecida como Quan’Am, no Japão como Kannon, em Bali como Kanin. Ela cobre as planícies alagadas do Oriente, do Egito à China, sendo venerada em todo o mundo por milhões de pessoas que a consideram o símbolo da pureza espiritual. Trago, portanto, sua imagem e história porque sua consciência e ensinamentos fizeram e fazem parte de minha jornada.
Contam as histórias que enquanto viveu, Kuan Yin percorreu o mundo e presenciou muita dor, para então comprometer-se em proteger e amparar todos os humanos, até que o último sofrimento esteja sobre nós. Aqui no Brasil, através dos conhecimentos advindos da Grande Fraternidade Branca, é vista como uma mestra que incorporou e personificou a compaixão através da sua própria experiência de vida.
Kuan Yin, cujo nome significa “aquela que ouve os lamentos do mundo” é boddhisatva da Compaixão no budismo chinês. Ela nos deixou um mantra com o qual podemos sintonizar para cultivar a compaixão sempre que necessário, para que através da vibração e frequência energética gerada possamos iniciar um trabalho interno para curar nossas feridas mais profundas e dolorosas e, posteriormente, auxiliar no trabalho dos que vierem até nós buscando o mesmo objetivo.
Todos que sintonizam com sua consciência e trabalham através de sua compaixão – já muito vista por mim como flores de lótus energéticas em trabalhos que realizei, cujas frequências de cores eram diferentes dependendo do tipo de ferida emocional que a pessoa necessitava trabalhar – sabem o quanto sua energia é doce, cálida e sutil, mas também o quanto é profunda. Mesmo tendo alcançado “a iluminação”, a consciência de si, ela optou por permanecer sintonizada ao mundo humano em auxílio.
Para leitores ocidentais, vale lembrar que Bodhisatvas são considerados espíritos perfeitos. Segundo Karl Ludvig Reichelt, na obra Truth and Tradition in Chinese Buddhism: “Eles podem, se quiserem, entrar na plena dignidade búdica, na eterna paz e felicidade, mas eles não o fazem no tempo presente porque, como bodhisatvas, podem mais facilmente buscar aquela parte da criação ainda submetida a peculiares condições incertas e dolorosas das almas no caminho.”
Kuan Yin, um dos cinco bodhisatvas mais conhecidos, pouco a pouco vem se destacando mais que outros bodhisatvas para significar o espírito: o misericordioso e bondoso espírito que acende, em todas as criaturas, o desejo de uma renovação do coração, que protege e ensina sobre os caminhos de dor e tristeza – não de forma a removê-las por nós, mas nos ensinando como podemos aprender com elas e percorrer um caminho que ela conhece porque já o percorreu, até o momento que não precisaremos mais da dor para evoluir, substituindo-a pelo amor.
Nos tempos primitivos, ela era geralmente considerada como aspecto masculino, e ainda se vê em certos mosteiros na China uma enorme figura com barba e expressão viril, mostrando-a como um homem. Nessa forma, era chamada de Filho de Amitabha. Ao longo do tempo, características femininas vão se tornando mais proeminentes na medida em que a concepção de espírito torna-se dominante – o aspecto voltado ao feminino não como gênero, mas enquanto polaridade Ying – e tudo que os chineses podem imaginar de ternura materna e graça feminina foi atribuído a ela, tornando-se a Senhora Compassiva do Oriente.
A data comemorativa atribuída à ela é celebrada em 29 de fevereiro; seu ingresso na Sabedoria Plena é comemorado em 29 de junho; sua morte como passagem ou seu ingresso no Nirvana, por fim, é dado por ocorrido em 29 de setembro. Entre o povo oriental, essas três datas são muitas vezes conhecidas como “aniversários de Kuan Yin”. Todos saem às ruas, os templos e as cidades são decorados para essas festividades populares, como vemos aqui no Brasil relativo à Iemanjá ou Nossa Senhora dos Navegantes.
Bodhisatva Guan Yin foi consagrada universalmente nas diversas correntes budistas como principal figura da devoção. Era Bodhisatva Avalokitesvara, aquela que praticava profundamente o Prajna Paramitta – a sabedoria – até libertar-se de todo sofrimento. Não é vista como uma deusa porque guarda traços humanos. Conta-se, na tradição popular, que ela foi uma princesa na antiga Índia. Era a mais bela e piedosa entre todas; não gostava de vestidos luxuosos, nem de pratos finos feitos com carnes de animais, embora tudo isso lhe fosse oferecido como direito. Alimentava-se de verduras porque não suportava ver animais sendo mortos; vestia-se de panos grossos porque gostava de ser simples, e era a mais piedosa entre as filhas.
Entretanto, quando chegou o momento de casar-se, fugiu do palácio porque queria buscar o seu caminho e se dedicar ao ascetismo, seguir o exemplo de Buda. Ao ser obrigada pelos seus pais a contrair casamento, ajoelhou-se diante do palácio do rei durante dias e noites, sem nada comer, passando frio e tomando vento e chuva, apenas recitando o “Sutra da Grande Compaixão”. Sua fé venceu todas as barreiras. Quando alcançou o Nirvana, não teve desprendimento suficiente para deixar o mundo porque a sua compaixão era tão forte e infinita que lhe deu forças para fazer o maior voto que alguém podia desejar realizar: “enquanto houver almas sofredoras sobre a face da Terra, não abandonarei esse mundo e ajudarei todos a alcançar a libertação”.
Assim, oficialmente foi chamada de a “Grande Misericordiosa e Grande Compassiva Bodhisattva Guan-Shi-Yin” – seu nome aqui, em chinês, significa: “Aquela que vê e que ouve o Mundo.” Segundo essa história, ela atende todos os apelos, por mais desesperadas e “perdidas” que as pessoas possam estar, não importando a religião ou qualquer que seja a crença da pessoa, uma vez que na compreensão budista, todos os homens são de natureza búdica: luz que reflete a si mesmo, pouco importando a que religião pertençam – seres humanos são budas em potencial.
O Sutra do Coração – Meditação
Meditar com esse mantra eleva nossa frequência energética e do ambiente, nos trazendo uma paz profunda, a tranquilidade de um lago límpido, podendo no levar para um mergulho profundo para dentro de nós mesmos. Antes de ouví-lo, intencione o que você necessita nesse momento da sua jornada. Faça várias respirações profundas para relaxar o corpo e desacelerar a mente. Feche os olhos e encontre uma posição confortável. Permita-se, entregue-se ao vazio, ao espaço do não-tempo, do não-manifesto. A consciência nos fala através do silêncio. “Sem obstáculos na mente; sem obstáculos o medo desaparece. Para além do pensamento em ilusão, este é o Nirvana.”
Nesse contexto, vejo e sinto a compaixão e a misericórdia como um estado do Ser, um estado que a consciência atinge através da sua própria experiência. Por mais que ouçamos histórias, contos, lendas, ensinamentos e conhecimentos em qualquer cultura, filosofia e religião, o aprendizado só ocorre de fato em nosso íntimo quando o praticamos. É esse o momento em que um conhecimento torna-se sabedoria e, por essa razão, é visto em muitas culturas como “iluminação”: iluminar o que estava inconsciente trazendo-o para a consciência, seja algo que já trazemos pronto na alma e sai do mundo não-manifesto à consciência, seja o que acessamos de forma consciente por meio de uma experiência transcendental neste plano terreno.
Que os ensinamentos e sabedorias de Kuan Yin sejam derramados sobre você como bênçãos de puro amor e compaixão! Permita-se ultrapassar os véus do medo, da dúvida e das ilusões, conheça-se profundamente nas suas luzes e sombras, nas suas feridas e cicatrizes. Permita-se a entrega ao vazio, ao silêncio, e traga à luz, à consciência do seu Ser o essencial para cada passo dado em sua jornada de evolução. Namaste! ❤