Durante décadas, ao longo de minha jornada e experiência pessoal conhecendo pessoas, lugares e espaços que se dizem curativos e “luminosos”, uma pergunta recorrente – que nunca quer calar – sempre se faz presente nos atendimentos que realizei e nos cursos e vivências que ainda ministro: como saber quem realmente está bem intencionado?
Essa pergunta se desenrola, por fim, em muitas outras. Algumas delas: como saber em qual fonte de informação confiar? Como saber se a informação que nos chega é crível? Se o profissional que nos atende prometendo nos auxiliar em nossos processos de transformação pessoal é idôneo? Se lugares que frequentamos visando o Bem, com pessoas que convivemos e que supostamente deveríamos confiar – seja um consultório terapêutico, um espaço de cura, seja uma sala de atendimento à saúde, um templo religioso, uma comunidade sustentável, entre outros – que prometem auxiliar no nosso despertar e autoconhecimento, guardar nossos segredos pessoais, nossas fragilidades emocionais, nossas feridas muitas vezes ainda expostas, além da nossa história de vida, são de fato aquilo que se mostram? Como saber se são apenas uma fachada, uma imagem construída para ser vendida, uma “máscara de verdade” que guarda a mentira nos bastidores?
Perdi as contas de quantas foram as histórias que através de mim chegaram, de pessoas que até mim vieram buscando uma palavra, um alento, uma clareza, uma explicação, alguém que as ouvisse e pudesse compreender o que elas vivenciavam porque, simplesmente, estavam depressivas, frustradas, desacreditadas de si, desalinhadas em vários níveis da sua energia e da psique, destruídas em sua identidade e integridade como ser humano por terem sido enganadas, usadas em seus dons, seu amor, sua boa vontade, sua Luz interior para servir a fins escusos, lugares e pessoas de má fé que da sua própria fé também tiraram proveito.
Uma frase, portanto, pode ser o início da reflexão gerada a partir desse ponto de vista: a Luz também vicia! Engana-se quem pensa que pessoas, lugares e espaços que visam a cura, a saúde e o Bem só fazem o bem. Engana-se também quem pensa que só fazem o mal, porque nesse caso sempre existe uma mentira entre duas verdades. Quando digo que a Luz também vicia significa que esses lugares e pessoas geram uma Luz ilusória ao seu redor, um brilho que não é gerado pela Luz interior – a Luz verdadeira da essência – mas sim pela projeção mental desta Luz que, para os invigilantes, os fragilizados e desprovidos de senso crítico pode parecer a Luz da alma quando, na verdade, é a Luz criada apenas pelo ego, pela mente.
Essas pessoas que “brilham” não são capazes de gerar a Luz interior, por essa razão precisam de pessoas ao seu redor que gerem essa Luz interior, naturalmente provinda da sua essência, do seu coração e da sua consciência para que possam continuar brilhando, enganando outros e permanecerem justificando suas ações – ações essas que podem ser até boas e positivas para esconder outras prejudiciais aos que já estão enredados pelos seus tentáculos mentais.
Essas ações que prejudicam outros são inúmeras. Podem ser conscientes e estarem sendo aplicadas através de técnicas de hipnose, por exemplo. Podem estar ligadas em níveis energéticos, para aproveitar e “sugar” para si energia alheia através de fios mentais ou emocionais; fazer uso de fragilidades, bloqueios, traumas ou feridas emocionais para chantagear, persuadir, usurpar, abusar ou convencer o outro a fazer o que se quer, mantendo-o como “escravo energético” pelo tempo necessário, mesmo que não perceba isso porque não consegue detectar esses fios que se mantém sutis em seu campo áurico. Consequentemente, esses fios acabam desencadeando problemas físicos – e geralmente, com o tempo, é o que ocorre – porque a verdade nunca fica escondida por muito tempo, basta estarmos atentos aos detalhes e às atitudes mais do que a palavras bonitas e discursos inteligentes.
Essa “máscara” usada por muitos em forma de “Luz” é antiga. Somam-se milênios, eras e éons de histórias que sequer temos conhecimento. Mesmo que estejamos presenciando muitas dessas máscaras caindo, existem pessoas, grupos, comunidades e lugares ainda vendendo-a, dizendo que ajudam tudo e todos quando na verdade essa é apenas uma fachada que esconde suas reais intenções.
Isso se aplica tanto para consciências que convivem entre nós, ligadas à nossa vida, à nossa rotina pessoal e profissional, quanto àquelas que vibram em outros Planos conscienciais e/ou dimensionais. Observamos essas “máscaras” geralmente sendo vendidas com informações hiperbólicas, como se essas pessoas pudessem ser capazes de mudar o mundo, o planeta e a galáxia porque se vêem e desejam ser reconhecidas como deuses ou deusas a serem idolatrados, repletos de seguidores a servi-los nos seus intentos mais obscuros.
Nessa Era digital, portanto, reside uma atenção triplicada. Estamos submersos até o pescoço com valores humanos que se apresentam tão distorcidos e o que vemos à nossa frente é um desafio ainda maior para manter a sanidade e o discernimento. Tudo pode ser falsificado porque não se conversa mais pessoalmente com as pessoas como antes, não se conhece os lugares das páginas que se acessa ou visita e, na maior parte das vezes, não se sabe nem quem é a pessoa que se segue num perfil virtual ou que se adicionou como amigo/ amiga numa rede social, muito menos se questiona as informações que chegam. Em suma, estamos sendo bombardeados por informações falsas, as famosas fake news repletas de brilho e desprovidas da Luz da essência, um campo perfeito para os “lobos em pele de cordeiro” existirem, nutrirem-se e brilharem.
É de fato um momento delicado para gerar confiança e credibilidade de informação. Se não tivermos nosso firewall pessoal, nossos filtros energéticos, mentais e espirituais, estaremos fadados a conviver com mais mentiras do que com verdades – entendamos que essas verdades estão ligadas aos valores humanos de cada um, não são absolutas – conviver mais com o brilho da fama do que com a Luz verdadeira da prosperidade, advinda com a transformação interior, a humildade, o respeito, a solidariedade, a ética e a moral, a compaixão pelo outro.
A sugestão que deixo aqui é: ao invés de racionalizar tudo, de procurar encontrar as respostas apenas através da mente, procure sentir a frequência ou vibração da energia da informação que você esteja lendo, buscando ou recebendo, seja relativo a pessoas, espaços, coisas ou lugares. Se sentir algo estranho, algo que parece errado no discurso, algo que não está bem, capaz de acender um “sinal amarelo ou vermelho” da sua consciência e que não ressoa positivamente – mesmo que a notícia, a informação ou a pessoa estejam dizendo ou divulgando algo que vise o bem comum – mesmo que você não saiba os porquês, saiba que sua intuição e “sexto sentido” estão dizendo algo por outras formas de percepção do seu ser, procurando comunicar-se através de formas não verbais a fim de chamar sua atenção.
Um exemplo vivo do que menciono aqui vemos na natureza, nos reinos marinhos onde a luz do sol não chega. Existem peixes e outros animais marinhos fluorescentes que usam essa luminosidade apenas para atrair suas presas, já que num ambiente de plena escuridão não há outra forma de sobreviver e chamar a atenção senão gerando uma luz falsa. Essa luz é na verdade um brilho hipnótico capaz de aprisionar os que se aproximam dela pela pulsação e intermitência dos seus raios multicoloridos. Por essa razão, a Luz também pode viciar.
Com base nesse exercício do sentir, podemos então criar um campo propício para ressoar com nossas verdades e valores essenciais, porque a energia que estiver em sintonia ao que estamos buscando estará ressoando harmonicamente com essas verdades. Se ficarmos vinculados e dependentes do que as pessoas pensam e falam não chegamos a lugar algum, uma vez que sempre há alguém para criticar o trabalho do outro e promover-se através disso – aqueles que crescem a partir da ruína alheia. Em tempos de redes sociais, o que poderia estar sendo usado para unir pessoas também está sendo uma ferramenta alienadora nas mãos de muitos.
Por fim, ressalto que este artigo não tem a intenção de atacar, prejudicar ou julgar algo ou alguém porque acredito que tudo o que experienciamos – seja positivo ou não – acontece para o nosso aprendizado e evolução. O objetivo aqui é gerar reflexão para que cada um chegue às suas próprias conclusões, incentivar o senso crítico e relembrar que a nossa consciência tem inúmeras formas de se comunicar conosco através de linguagens não verbais e percepções extrasensoriais.
Ouvindo essas linguagens, esses sinais, estaremos mais atentos para realizar decisões, para sabermos com mais clareza e discernimento onde desenvolvermos nossos dons e nossa Luz interior, procurando não seguir cegamente o primeiro que nos chega com boas intenções ou “pintado de ouro”, aquele que busca atingir seus objetivos a qualquer custo e brilhar no palco que constroem ao seu redor – assim como as aves do paraíso que precisam preparar minuciosamente o seu palco para realizar o seu show.
Trazendo alguns casos que exemplificam o artigo, sugiro uma lista de séries, filmes e documentários ligados a grandes mentiras guardadas pelo tempo por “máscaras de Luz”, algumas delas talvez nem tenham chegado ao nosso conhecimento. Outras, mesmo desmascaradas, ainda estão sendo vendidas em forma de Luz. Esses casos representam a antiga promessa do paraíso na Terra para viver uma nova vida onde tudo é possível e permitido: a confusão ainda existente entre liberdade e libertinagem, entre segurança e privacidade.
Fica a reflexão para todos os que se sintonizarem com ela. Que possamos estar focados cada vez mais na frequência do amor ao invés de apenas na frequência da Luz. Luz é informação, passível de manipulação. Amor é conexão: a Luz essencial verdadeira provinda da consciência. Namastê!
- Wild Wild Country (Série de TV/ Original Netflix): Relata a ascensão e queda da comunidade de fiéis criada por Osho (Bhagwan), cujos fatos ficaram velados para muitos grupos estabelecidos no Brasil e ao redor do mundo. Como resultado: um passado sombrio repleto de disfunções e desequilíbrios, pessoas que foram exploradas em suas emoções, boa vontade, entusiasmo em construir uma comunidade autosustentável.
- (Dis)Honesty: A verdade sobre as mentiras (Documentário) – Documentário cientifico que comprova como uma mentira pode virar verdade. Quais os estudos e pesquisas do cérebro humano relativo ao assunto.
- Glória Allred: Justiça para todas (Documentário/ Netflix)
- Enlighten Us – A Ascensão e Queda de James Artur (Documentário/ Netflix)
- Holy Hell (Documentário) – culto nos EUA que promete a conexão com Deus
- On the Road of the Dirty Money/ Na Rota do Dinheiro Sujo (Série / Netflix)
- Leah Remini: Scientology and The Aftermath/ Cientologia: Toda a Verdade (Série/ Documentário investigativo)
- Going Clear: Scientology and The Prison of Belief/ Cientologia e a Prisão da Fé (Documentário)
- CitizenFour (Série/ Documentário)/ Snowden: Herói ou Traidor? (Filme)
- MR. Robot (Série de TV)
- American Gods/ Deuses Americanos (Série de TV baseada nas obras de Neil Gayman)
- The Keepers/ Os Guardiões (Série/ Documentário investigativo)
- Mea Máxima Culpa/ Minha Máxima Culpa: Silêncio na Casa de Deus (Documentário)
- Tonny Robins: Não sou o seu Guru (Documentário)
- Blackmirror (Série de TV – Alguns episódios)
- Deprogrammed/ Desprogramação (Documentário)
- I’am Jane Doe (Série/ Documentário)
- O que alimenta o mal? (Vídeo de Monja Coen). Palavras da Monja: “Construa sua realidade com as suas decisões do coração e da mente (…) Pergunte-se: será que o que estou fazendo, pensando, falando está beneficiando verdadeiramente todos os seres para que cresçam no seu potencial, ou quero impor os meus valores e vou chamar de ‘mal’ todos aqueles que não concordarem comigo? “
Por Luciane Strähuber – Educadora da Terapêutica Integrada
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