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Um pouco da real história do Povo Cigano

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O som do violino corta a noite. Ele acorda os espíritos ciganos que vêm da Rússia, onde moram em castelos de pedra, ou da Espanha, onde dormem nas praças de touros. Pandeiros, palmas, cânticos de ciúme e amor deste anoitecer no acampamento, algo de sonho e de mágico.

Saias vermelhas, xales negros, pulseiras douradas nas mulheres, brilham mais que a Lua, a deusa de todos os ciganos. E, enquanto aumentam os cantos e os feiticeiros se esquentam junto da grande fogueira, vamos nós, mais uma vez, tocar na poderosa e terna magia das tribos, para aprender, pela voz da mãe-dos-feitiços, segredos jamais revelados.

Canta violino, bate com o pé descalço no chão, povo cigano, que é sua a noite, e suas são todas as estradas. E, entre moedas de ouro e talismãs de prata, ao cair das cartas do Tarô, ao tilintar dos pêndulos, mostremos a sua força.

Os donos da Magia Vermelha sempre foram os ciganos; segundo as lendas, este povo nasceu na Índia. Foi no começo do mundo. Eles trabalhavam com o ouro, o bronze, a prata e adoravam a deusa do fogo, protetora de todos os que moldam o metal. Mas, num dia de revolta popular, eles foram expulsos de suas terras. E então, aos pés da divina mãe-da-tribo, fizeram o juramento de andar por todos os lugares, sem pátria, já que deixaram a sua, como malditos.

Contam as cantigas gitanas que a tribo andou por todo o Oriente, colheu lótus na China, tocou nos papiros do Egito, deixou-se envolver pela atração da Esfinge de Gisé, dançou nos castelos de Espanha, nas feiras portuguesas, bebeu o vinho bom da liberdade por todo o canto.

Hoje estão aqui, nas terras verde-amarelas, e andam pelas estradas de casas de sapê, ouvem rezas de lavadeiras, espiam nossa vida cabocla, lêem nossa mão. São eles os ciganos da Tribo Lua Nova, uma das mais antigas, uma das mais quentes de amor.

Com suas saias rodadas, de ramagens coloridas de vermelho e amarelo, com suas pulseiras e brincos de ouro, seus Talismãs de meias-luas de prata, seus berloques de marfim de lápis-lazúli, correntes de moedas douradas no pescoço, tranças com fitas, lenços e medalhões, as ciganas caminharam por todo o Sind. Fugiam da expansão dos árabes da Índia. Os homens levavam os ídolos, os cantos védicos, os cães e as cabras. Chegaram ao Punjab, outra parte da Índia. Lá, de Chandigarh fugiram para o Afeganistão. Cansados e famintos, armaram suas tendas, acenderam suas fogueiras nas terras do Afeganistão, mas mal sabiam que lá também não poderiam ficar. No ano seguinte estavam na Armênia, depois por toda a Ásia Menor afora, entrando na Europa pela Grécia.

Hoje, espalhados por quase todo o mundo, estes descendentes dos hindus, agora chamados ciganos, não conhecem estas histórias e suas tradições. Desde a peregrinação no ano 800, até agora, esta gente conheceu quase toda a Europa. Lembram-se, em suas conversas à noite, entre canções dolentes, de que seus bisavós falavam dos tempos da Valáquia, da Moldávia e da querida Hungria, onde chegaram em 1417. Até hoje cantam em seus bródios cantigas húngaras. Relembram as terras germânicas onde chegaram em 1418, e das feiras em Paris lá pelos idos de 1419.

Outros, dando risadas, falam de seus “maiores” que viveram na Catalunha, terra por demais amada pelos zíngaros. Lá vivem milhares deles ainda hoje. Lá cuidam e amam a Santa Virgem de Triana, conhecida como La Gitana. Outros, bebendo sifrit, uma mistura de vinho, ervas e cascas de fruta, falam dos teatros que faziam em Évora, em Portugal, seus tetravôs. Sim, pois em Portugal os ciganos foram muito notados e até eternizados por Gil Vicente na Peça “Farsa dos Ciganos”, quando quatro gitanos conversam em mau castelhano com RI Rei D. João III.

Para o Brasil. eles vieram nos tempos de nossa colonização. Turbulentos, suspicazes, alegres, misteriosos, esses descendentes dos hindus do Punjab e de Sind foram até citados nas “Confissões da Bahia” em 1593. Viveram em Pernambuco, em Salvador, no Rio colonial e agora, alguns mais velhos, lembram dos tempos em que residiam no Rio, na Praça Tiradentes, onde liam a sorte e vendiam cavalos.

Agora, vivendo em todas as partes, continuam a venerar seus santos católicos, seus ícones, Sara, cuja igreja em Chartres é a verdadeira Catedral dos Ciganos, a praguejar em calão e a rir sua risada velha como o mundo. Riso que ainda tem muito das peregrinações ao rio Ganges, ou à cidade santa de Varanasi, riso matreiro de quem dançou as danças de Orissa, fez procissões em Darjeenlin e em Tripura, de quem peregrinou por Paris nas feiras de compras de cavalos, e pelas areias do deserto. Riso de olhos debochados de quem já viu de tudo e que traz em si o sonho de grandeza, de fortuna, de carroças cheias de ouro e jóias e muito, mas muito, da miséria humana, de suas lutas, medos, fantasias e crendices. Riso de caldeireiro, soldador, troçador de baralho, rezador, riso que tem em si o segredo de um povo nômade e velho, mistura de árias e hindus, gregos, catalães, portugueses, riso que só o têm esses filhos do Sol e da Lua, irmãos do vento, os eternos e misteriosos ciganos.

Apesar das diferenças locais e dos regionalismos, eles mantêm ainda vivos os traços fundamentais: o nomadismo permitiu a preservação dessa cultura diante dos ataques de que sempre foram alvo.  Em 1969, durante a realização de um congresso de ciganos em Brasília, Gratton Buxon, secretário do Conselho Cigano Britânico, advertia para essa “irreversível perda da identidade”. Confirmando a tese sobre a origem hindu, a Comissão pelos Direitos Humanos da índia declarou que os ciganos são hindus no exílio e pediu aos países onde eles se radicarem para reconhecê-los como “minoria nacional”.

Atualmente, Campinas é a cidade brasileira com maior número de ciganos, com cerca de 400 famílias. As festas de casamento costumam durar até 5 dias e são verdadeiras atrações na cidade. Mas há ciganos no Catumbi, em Teresópolis, em Salvador, em Itaparica etc..Em geral trabalham com ferramentas e na leitura da sorte, pois, ao longo da história, a sobrevivência do cigano sempre esteve ligada ao comércio ou remuneração em troca de predições.

O mais famoso congresso de ciganos ocorreu em 1971 na Iugoslávia, país europeu onde eles estão em maior número. Naquele encontro decidiu-se uma bandeira para os ciganos. Bandeira com listras verdes e uma azul, tendo um círculo ao centro. Pela ordem, as cores simbolizam os valores terrestres e espirituais da ética cigana.

(Do Livro: A astrologia dos ciganos e sua magia – Maria Helena Farelli)  

3 comentários em “Um pouco da real história do Povo Cigano”

  1. oi gostaria de saber mais sobre a historia do povo cigano na Espanha, quando eu tinha 15 anos sonhei durante 7 dias uma msm historia mais partes separadas, e nesse sonho eu era uma cigana na msm faixa etária que eu estava, e que já era prometida pra um dos ciganos que era “do mesmo lugar”, e acabei me apaixonando por um “não cigano”, e não foi aceito, que acabou comigo daquela época cometendo suicídio depois dos dois morrerem, um assassinado e o outro caindo de um penhasco de maneira estranha. logo que acabaram esses sonho conheci um rapaz por qual me apaixonei, detalhe esse rapaz que eu não conhecia antes de sonhar estava no meu sonho como um dos rapazes que eu conheci naquela época, gostaria de saber tbm se reincarnação e possível msm depois de se cometer suicídio, deixo meu e-mail caso alguém tenha respostas para minhas perguntas

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    1. Olá, Luana!

      Tudo bem?

      Sim, o que você sonhou pode ter sido de fato uma vida passada.

      Muitas vezes, os sonhos são a linguagem do que está no subconsciente ou guardado no inconsciente do nosso ser.

      Podemos, através deles ou do que chamamos de “arquivos akásicos” – arquivos de memórias do passado e de outras vidas – trazer para o consciente fatos reais que vivemos no passado por alguma razão que nossa alma quer que saibamos, seja para que possamos resgatar partes de nós mesmas que precisam ser reconhecidas e abraçadas, seja para que possamos reconhecer nossa “sombras” para acender ainda mais nossa Luz, nossas verdades interiores e essenciais.

      Gostei da sua sugestão de querer saber mais sobre a história dos ciganos na Espanha, pois ainda temos intenção de aprofundar este universo cigano de várias formas em nosso Blog/ Site.
      Caso tenha interesse, sugiro que você procure por livros que relatem romances mediúnicos ou histórias psicografadas – psicografia e romance mediúnico acontecem quando uma consciência que está desencarnada relata sua história através de um médium – sobre histórias ciganas. Existem muitos livros e literaturas a respeito e podem ajudá-la a compreender ainda mais este universo.

      Assim, você poderá ter uma visão mais ampla e conhecer relatos que, em algum momento da história, foram de fato vivenciados neste plano da matéria por alguma consciência que já esteve encarnada e que, agora, precisa passar adiante a sua real história para relembrar outros sobre a sua própria.

      Por experiência própria e por também ter um “universo cigano” que me acompanha, quando começamos a relembrar naturalmente das histórias de nossas vidas passadas, também passamos a ter mais consciência dos Guias, Mentores, Irmãs e Irmãos de jornada, de alma e coração que nos acompanham, nos auxiliam e nos fortalecem.

      E quanto mais sintonizamos com isso, com este conhecimento ancestral “guardado” dentro de nós, mais passamos a nos conhecer e ter consciência de quem somos e qual o nosso propósito nesta existência.

      Espero ter auxiliado no esclarecimento de tuas perguntas.

      Um grande abraço, com bênçãos ciganas e todas as prosperidades! 😉

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